A poesia de Cesário Verde é imbuída de um realismo autêntico que perpassa nos seus versos de uma forma sincera através de uma linguagem simples e mesmo coloquial.
Manuseando a língua de forma soberba, mas natural, consegue, através da utilização magistral do adjectivo e do advérbio, como só Eça teve arte, criar sugestão ao leitor pelo imediato da surpresa da relação verbal que de forma lógica e extensa se desvaneceria.
Por outro lado, valoriza poeticamente o vocabulário corrente da linguagem coloquial urbana, levando o leitor a dar atenção a cada pormenor, mas abrindo-lhe, simultaneamente, novos horizontes, saltitando entre a sátira ou a degradação da vida urbana que nos oprime e a beleza real que nos liberta numa explosão de sentidos. O campo, a verdura dos prados e dos montes, o aroma e a cor das flores e dos frutos, o pulsar enérgico da cidade que se manifesta no batuque dos calceteiros ou no toque das grades das cadeias, na visão das varinas vestidas de negro ou dos operários enfarruscados, nos arrepios de frio no Inverno ou no calor do sol no Verão, eram a seiva que alimentava a sua liberdade poética.
Tal como Eça de Queirós que delicia o leitor com o seu realismo irónico, também Cesário Verde, ao reagir contra o romantismo piegas de uma poesia sentimental, descobre um tom natural, levando o leitor a experimentar um imaginário infeliz.
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